Adoecimento na sociedade contemporânea

Adoecimento na sociedade contemporânea, não estranhem o termo. Do contrário, se apropriem dele.

Se pararmos para analisar criticamente, as condições de saúde, educação e segurança estão cada vez mais precárias. As pessoas estão deprimidas, agressivas e vorazes. Existe todo um ambiente ao nosso redor, que está adoecido. Porque insistimos, assiduamente, que a nossa saúde esteja adequada, mesmo diante de um ambiente desfavorável (para não dizer, caótico)?

Já ouviram falar sobre os determinantes sociais da saúde? Dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), existe a compreensão de saúde enquanto uma condição que é procedida pelos “Determinantes Sociais de Saúde” (DSS). Os DSS dizem respeito às condições econômicas, sociais, culturais, étnico/raciais, psicológicas e comportamentais que interferem sobre a saúde humana. Uma vez desequilibrados ou instáveis, estes fatores apresentam riscos às condições básicas de sobrevivência, tais como moradia, alimentação, empregabilidade, renda e escolaridade.

Não é de se surpreender, que cada vez mais pessoas padecem de ansiedade ou depressão. Transtornos que antes eram desconhecidos, hoje são tidos como “comuns” em saúde mental. Muitas vezes, este efeito nos leva a banalizar as condições emocionais de um indivíduo. Quem nunca duvidou de um diagnóstico de depressão, que atire a primeira pedra!

Brincadeiras à parte, assistimos regularmente à intensificação do sofrimento humano. Na medida em que os dias decorrem, parece que nada (o sofrimento não) passa.

Crítica à “categorização” do sofrimento

Atualmente, o Manual de Transtornos Mentais (DSM-V – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) se configura como um compêndio dos principais sinais e sintomas de acometimentos em saúde mental em escala mundial. Muitas vezes entendido como indispensável à prática clínica da área da saúde, hoje o DSM-V será alvo de nossa crítica construtiva.

Graças a este incrível manual (contém ironia), e claro, às transformações massivas da tecnologia e formas de organização social, passamos a ca-te-go-ri-zar o sofrimento humano, ou seja, catalogamos os principais sinais e sintomas inerentes à quadros clínicos específicos e esquecemos das causas comuns, culturais e históricas, a que estamos submetidos.

Nesta perspectiva, catalogar o sofrimento, supostamente, responderia à angústia do mal-estar. Vejam, “porque tenho me sentido mal? Ah, sim, porque fui avaliado e descobri que tenho depressão”. Ótimo! Seguindo essa lógica, sou medicalizada e vida que segue? Para muitas pessoas, sim. Mas, não é de se admirar que a maior parte dos quadros depressivos aparecem e desaparecem, neste último caso me atreveria a dizer que existe uma (discreta) remissão dos sintomas, e não uma melhora significativa, mas enfim, se não conhecermos as causas ou repensarmos a forma de vida até o acometimento da doença, dificilmente conseguiremos tratá-la. Mais do que isso, se não dermos vazão ao sofrimento, ele perpetuará. Não podemos reduzir o sofrimento a um conjunto de sinais e sintomas. A dor de Pedro é diferente da dor de Paulo, e assim por diante.

Mais uma vez, a catalogação dos sinais e sintomas, confere dúvida à dor do outro. Lembram-se daquele quadro depressivo que gente duvidou? Eis aqui uma possível resposta: para além da resistência que apresentamos quando o assunto é saúde mental, pode-se destacar que a exacerbação de sintomas comuns, nos causa dúvida (claro, não deveria ser assim).

Existem patologias do social, a forma como a gente sofre diz muito sobre a forma como a gente vive, a forma como a gente deseja, a forma como utilizamos a linguagem e também de como disponibilizamos enquanto cidadãos.

Mal-estar na civilização

Infelizmente, o contexto atual pressupõe que as modalidades de sofrimento seriam apenas déficits de funcionamento bioquímico, como ausência de hormônios (serotonina, dopamina), descompensações orgânicas em geral, história genética, entre outros de modo à culpabilizar indevidamente o sujeito, que, até aqui, já está em sofrimento.

O nosso mal-estar diz respeito à condição existencial. Estar e ser neste mundo. O nosso corpo, mais do que sintomas, também é um lugar de fala, de expressão e de manifesto.

Estudos recentes têm sugerido também, que a fragmentação das relações coletivas enfraqueceu o nosso senso de vida compartilhada e cedeu lugar ao individualismo. Vale ressaltar que, o sofrimento, quando compartilhado, é bem menos doloroso.

Nos dias de hoje, há pouco lugar de escuta e pouca oferta de acolhimento e continência aos sofrimentos humanos, talvez por isso, não seja “permitido” sofrer.

Começam aqui, os adoecimentos sociais!

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